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Queria um marido, se faz favor!

26.6.07
Ontem tive um encontro imediato com uma pessoa que me deixou a pensar horas sobre esta questão de emigração. Aliás, o termo "emigração" caiu em desuso na Europa. Não se ouve nenhum jovem dizer que "vou emigrar para a Itália, Portugal, Inglaterra". Diz-se "vou experimentar morar na Itália,etc, por uns tempos".

Estava eu na paragem do tram em pleno Corso Sempione, uma das maiores avenidas de Milão, quando uma mulher (demasiado jovem para chamar senhora, mas demasiado velha para chamar jovem) se aproximou e me perguntou se o tram 1 passava no Duomo. Respondi "sim, passa no Duomo" ao aperceber-me do sotaque brasileiro e em um segundo a mulher abraça-se a mim dizendo "Graças a Deus". Daí ao contar-me a vida toda não passou muito tempo.

Contou-me que estava há doze dias em Milão e que felizmente tinha já encontrado trabalho, na casa de um homem milionário, a "fazer faxina" e a tomar conta da idosa mãe do senhor. Iria ter um quarto só para ela e comida e ganhava 700 euros. Perguntou-me se eu achava bom.

Bem, eu que ganho 800 e devo pagar 450 de quarto mais 30 de passe e praticamente o resto do dinheiro vai para almoços e jantares...disse-lhe que me parecia francamente um salário simpático. Qual não foi o meu espanto quando a Luciana, com a sua simpatia estupidificante, me agarra na mão em pleno tram 1 e diz assim: "Eu acho que ele precisa de mais uma pessoa. Você não quer vir trabalhar comigo nessa casa fazendo faxina também?"

Eu disse-lhe entre gaguejos e estupefacção que nunca tinha feito limpezas na vida. Disse-lhe que tinha estudado na universidade e que estava a fazer este tipo de estágio para ganhar experiência na área. Disse-lhe que era tradutora também. Ela respondeu: "Ah, então você não tem muita prática na faxina...mas se você quiser eu posso falar com o meu patrão e ver se você consegue trabalhar lá comigo, mesmo sem experiência. Mas vai ter de deixar esse negócio de tradução, porque isto é trabalho duro, não pode fazer mais nada não!" De forma simpática, disse-lhe que não estava interessada em fazer limpezas nem cuidar de idosos.

Para uma pessoa da América do Sul (semelhante coisa já me tinha acontecido com uma peruana) é difícil explicar que os jovens hoje em dia movem-se na Europa, não para mandar dinheiro para a família, mas para ganhar experiência de trabalho, novas experiências de vida e melhorar currículo. O conceito actual de emigração é bem diferente do que era no passado.

Quando estava a respirar de alívio por ela se ter calado com o assunto de eu ir fazer limpezas com ela, sai-se com esta: "E noivo, você já arranjou?" E eu disse que não. Disse que tinha um namoradinho, mas não noivo. Ela assegura: "Minina, não deixa escapar ele não...já viu?? Casar com um italiano? Fica noiva dele já!!"
Neste momento a minha boca já não fechava, estava cada vez mais espantada com o rumo da conversa.
"Aqui tem muita prostituição, não acha? No outro dia vi uma brasileira com um celular moderníssimo e caro pa caramba!!!Pô, aqui é bem fácil de entrar nesse negócio. Eu tava na parada do ônibus e um cara passou num carrão e me perguntou quanto eu tava pedindo".
(isto realmente acontece, estes velhos italianos fazem muito isto, uma vez estava eu à espera do autocarro vestida de fato-de-treino - nada sexy - e parou um BMW a perguntar-me quanto levava...fiquei chocada, obviamente, mas o mesmo já me tinha acontecido em Lisboa)

Enfim, quando cheguei a Cadorna, dei graças a Deus porque era onde eu deveria descer. Disse "ciao" e "muito boa sorte" à Luciana, uma senhora de 42 anos que deixara os filhos no Brasil para tentar vir ganhar algum dinheiro a Itália...E um marido, já agora.

2 comentários:

  1. Sò queria dizer....PARABENS x a nova professora do IBRIT!!! beijinhossssss ale

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  2. Este teu blog é delicioso,vou nomeá-lo para THE POWER OF SCHMOORE AWARD que pretende divulgar/premiar os melhores blogues da blogosfera.
    Se assim o entenderes,cada nomeado deverá fazer uma postagem indicando quem o nomeou e nomear cinco blogues da sua preferência.

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