menu-topo

Os Franceses

5.6.09


Há algumas coisas que me fazem gostar de França. Apesar de serem os arqui-rivais dos italianos, disputa essa que terá tido início na altura do Iluminismo em que ambas as capitais, Paris e Roma, combatiam pelo título de cidade da cultura, do conhecimento e de grande influência sobre o resto do mundo.

Hoje em dia são países que funcionam de forma muito diferente e com mentalidades muito próprias. Todos sabemos que os italianos são barulhentos e (demasiado?) patrióticos e que os franceses são chatos e estão sempre a lamentar-se de tudo e de todos, especialmente dos italianos. Ambos têm bons perfumes, boa moda e boa gastronomia, embora disputem entre si todos estes predicados.

Mas há certas coisas que me fazem gostar de França:

- Eles têm Cannes, que é melhor do que o Festival do Leão de Ouro de Veneza, porque se lá formos, podemos dar de caras no meio da praia com o Brad Pitt ou com o Tarantino (e em Veneza não há praia de jeito);

- Eles têm bons pequenos-almoços: na Itália as mulheres gostam de ser magras - e não têm uma parte importante da anatomia humana chamada "rabo" - portanto comem pequenos-almoços pobres. Em França temos tudo: jus d'orange, café au lait, croissant, tartines (como eles chamam às baguettes cortadas ao meio), manteiga, geleia, etc. Sim, pode custar 9 euros lá no Café do centro da cidade mas é delicioso. Eu que não tenho o hábito de tomar pequeno-almoço (por favor não me crucifiquem), em Nice regalei-me com estes banquetes a cada manhã, acompanhada por um bom jornal;

- Eles inventaram a Fnac e levaram-na para o resto da Europa, que é um presente extraordinário para a aculturação do resto dos países que não sabiam o que significava livros, dvds e álbuns tudo junto e a bons preços;

- As mulheres francesas conseguem ser charmosas e sedutoras sem cair na vulgaridade. Nem mesmo quando três lésbicas, em ocasiões diferentes, me abordam e me dizem que sou bonita e que gostariam de sair comigo (aconteceu-me em Paris);

- Eles tratam os pretos como se fossem brancos. Foi sem dúvida a coisa que me marcou mais. Já nem falo dos muitos casais multicor que se passeiam pela cidade sem sequer serem alvo de qualquer tipo de olhar com tom reprovador. É bonito de se ver e quase que nos divertimos a imaginar que mulatinhos giros vão sair dali. Desta vez marcou-me um episódio no comboio: um jovem negro, não muito bem-vestido, pergunta ao fiscal qualquer coisa (peço desculpa, mas o meu francês enferrujado não me permite perceber conversas passadas entre outras pessoas e ouvidas de esguelha) e ele responde-lhe de forma muito educada e simpática, dedicando-lhe toda a atenção que um branco mereceria.
Naquele momento, eu que estava num compartimento com cinco brancos -italianos - a verem aquela cena, eu não resisti a exclamar:
"Isto só mesmo em França. Repararam como o fiscal falou com aquele preto? Tratou-o como se fosse um branco."
Olharam para mim incrédulos e esboçaram um sorriso amarelo. Eu insisti:
"Mas não é verdade? Digam lá se em Itália isto aconteceria? Nem sequer em Portugal isto acontece, onde as pessoas já se vão habituando a uma cultura de colonizadores e colonizados. Em Itália ou Portugal o fiscal teria respondido de forma seca e a despachar o rapaz. É assim."
Vimo-nos todos a comentar o assunto e todos concordámos.

De cada vez que volto a França descubro sempre mais detalhes e curiosidades...e mal posso esperar pelo próximo regresso.

3 comentários:

  1. Achei curioso o teu comentário do preto, principalmente. Fiquei curioso, sendo tu "bronzeada", se tens histórias para contar da maneira como te tratam. Alguma vez te sentiste discriminada? Notas ainda muita diferença de tratamento em Portugal e Itália?
    Eu acho que depende a que escalão social vais, no que diz respeito a Portugal.

    Ah, tenho de falar de França, também? :) Gosto de ouvir miúdas a falar francês. Mesmo que seja do trânsito. Há um je ne sais pas de sexy na língua...
    Tenho de ir a Paris. Falta-me essa cidade.

    ResponderEliminar
  2. Houve uma vez uma professora dos tempos de universidade - cadeira "Introdução à Ciência Social" - que disse numa aula que era racista e xenófoba. Eu nunca mais meti pés nas aulas dela. O engraçado foi que ela não me considerava negra, por isso disse aquilo de forma aberta. De qualquer forma, não fui às aulas e deixei a cadeira para mais tarde.

    Discriminação não a sinto na pele...mas senti que em França não existe mesmo, são todos muito educados com todos, percebes? Aqui ou em Portugal (mas até eu, com os árabes, por exemplo) falamos de forma "a despachar".

    ResponderEliminar
  3. Eu cá não gosto nada de franceses. Posso mesmo dizer que são o meu odiozinho de estimação da Europa. Costumo dizer que França seria um grande país...mas sem franceses!

    ResponderEliminar

AddThis