A minha vida dava um musical da Broadway

Durante este último ano, tive o privilégio de trabalhar numa empresa jovem aqui em Milão.
Trata-se de uma empresa cuja principal actividade é fornecer conteúdos multimédia para telemóveis (toques, jogos java, wallpapers, concursos via telemóvel, etc). Somos cerca de 100 no escritório de Milão (éramos 100, mas a crise obriga ao corte no pessoal...e também o stress neste tipo de trabalho é muito grande, portanto a vida média de um funcionário nesta empresa é cerca de 1 ano. Estou aqui desde Março de 2008 e vi irem embora mais de 50 pessoas durante este período), distribuídos em várias áreas: marketing, content management, chat, tecnologia, área legal, tesouraria, etc.
Conheci pessoas fantásticas e muitíssimo divertidas, com quem é um prazer trabalhar. Eles gostam muito de mim, ajudaram-me em períodos menos bons da minha vida e sei que tenho aqui amigos que duram para o resto da vida. A característica que mais me impressiona e mais me fará falta em termos de equipa de trabalho é que estão sempre prontos para a brincadeira.

Ora, este fim-de-semana em Barcelona, ao passear pelo Barri Gotic, eu e a Sílvia encontrámos por acaso um daqueles concertos de bairro, muito familiar. Tinha cerca de 30-50 pessoas a ver e uma barraquinha que vendia cerveja a 1,50€. A banda era bem jeitosinha e lá ficámos nós a cantar e a dançar no meio da rua com os catalães malucos.
Houve uma música que a banda cantou e que todos nós sabemos trautear, mas ninguém sabe de quem é. Aquilo ficou-me na cabeça, mas não conseguia lembrar-me de uma única palavra ou pedaço da letra, o que é estranho porque tenho uma memória extraordinária para letras de música.

Hoje de manhã cheguei ao escritório ainda com a música na cabeça. Perguntei ao Paolo, o meu colega que tem os mesmos gostos do que eu e a única pessoa que fez luto comigo no dia da morte do Michael Jackson. Comecei a cantar a melodia (nanana, na na na, nananana, nana nana, naaa). Ele obviamente conhecia a música, mas não sabia quem cantava nem nada da letra. Isto alargou-se a todo o nosso departamento e eu fui o rádio da frustração durante toda a manhã, pois todos sabiam de que música se tratava e nada, ninguém se lembrava da música.

Eu e Paolo começámos a pesquisar nos tops de Hits de várias décadas: eu dizia que a música era dos anos 90, ele dizia que era dos anos 80. Nada. Nem sinal de quem pudesse ser a canção.
Em meia-hora tinha mobilizado cerca de 20 pessoas, fiz um périplo pelas outras áreas, incomodei colegas com esta história da música e nada... realmente a pergunta "Mas qual é que era a música???" é a coisa mais contagiosa que existe, depois do bocejo.

Depois houve uma alma iluminada, noutro departamento, que me disse que no I-PHONE há uma aplicação que nos permite cantar - mesmo sem saber a letra - e o sistema reconhece a música. Oh Meu Deus, estamos no futuro, tinha-me esquecido completamente! O programa chama-se Midomi e ele em dois segundos instalou o programa no I-Phone e pediu-me para cantar.

Tentei imaginar esta cena: 10 pessoas ao meu redor, eu a cantar para um telemóvel "na na na na na na na" - sorte a minha que sou afinadíssima, mas não pude evitar fazer uma das maiores figuras de todos os tempos - e toda a gente curiosa para saber se aquele programa funcionava mesmo?

Ora o programa grava 10 segundos da minha voz...fica a pensar durante 5 segundos e...finalmente dá-me o título da canção e respectiva banda. Título e banda que nunca tínhamos ouvido falar na vida.

Fomos ao youtube, pusémos a música a tocar e era ver-nos a cantar o refrão como se tivéssemos acabado de sair de um musical.

Estão curiosos?

A música era esta.