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O universo às vezes pára

9.7.10
Há cerca de um ano, ele escreveu-me um e-mail a perguntar o que significava uma palavra que eu tinha utilizado num texto. Foi assim que começou. A nossa relação começou com a curiosidade.
Depois desse vieram muitos e-mails. E desde sempre, sem que me conhecesse ou me tivesse visto, manifestou um fascínio aberto por mim. Daquele tipo de fascínio que temos em relação às estrelas de cinema. Aquele fascínio que não é invasivo, nem obsessivo, aquele que se caracteriza por um sentimento de quase resignação. Como quem pensa "nunca a irei conhecer na vida real, mas ela é uma pessoa que não me importava de encontrar na rua". Ontem esse dia chegou.
No final de um dia extenuante de trabalho, fui ao supermercado no bairro onde vivo. Ele viu-me e esperou-me à saída. Pediu-me perdão pelo tipo de abordagem, no nível de português fabuloso que já me havia habituado nos e-mails e no blog pessoal, e perguntou-me se eu era a Rafaela.
Incrédula, porque aquele rosto não tocava nenhuma campainha no meu cérebro, franzi a testa, hábito que me está a trazer algumas rugas de expressão. No momento de silêncio enquanto me preparava para perguntar quem era ele, corri os últimos meses da minha vida em busca de tal rosto numa base de dados mental. Seria do Holmes? Não, lá ninguém me conhece pelo nome. Seria do Bairro Alto? Do Maria Caxuxa? Não, às horas da madrugada em que falo com pessoas, não me parece que memorizem o meu rosto e muito menos o meu nome. Do Facebook? Não, só aceito pessoas que conheço pessoalmente e este rapaz nunca o vi na vida... De alguma festa onde tenha estado? Seria um ex-namorado meu? Não tive um sem-número de homens, mas sou péssima com caras, por isso podia ter sido alguém íntimo do meu passado e que agora não reconhecia...Não, não podia ser. Denotei algum medo no tom da sua voz quando me perguntou se eu era a Rafaela, por isso ele também não tinha a certeza. Mas quem era, quem era?
Após todas estas ideias terem percorrido a minha memória de curto, médio e longo prazo, finalmente balbuciei um:
- Sim, sou eu.
Antes que eu lhe perguntasse quem era, ele disse-me:
- Eu sou o autor do One Guy Alone e reconheci-te. Pelo teu cabelo, pelo teu sorriso e pela simpatia. És tal e qual como eu imaginava.
Os meus óculos escuros cobriam-me metade do rosto, por isso ele perdeu a oportunidade de ver uma mulata a corar. Foi incrível o sexto sentido dele, o facto de ter parado por alguns minutos a vida dele e de ter parado também a minha. Conversámos uns 20 minutos à porta do supermercado, embriagados pela estranheza da situação. Felizes pelo acaso do universo. 
No final cada um seguiu o seu caminho e voltou para a sua vida. Mas sabemos que o mundo parou durante aqueles 20 minutos, em que duas pessoas que se escreviam e-mails semi-íntimos há um ano, se conheciam na vida real e no meio da rua.

Ele escreveu sobre mim no blog e eu emocionei-me. Porque parece que fala de uma estrela de cinema.



Na fila de uma caixa de supermercado, sossegado da vida, de garrafa de água na mão para pagar, cruzei-me com uma pessoa que desde o inicio da nossa “relação” senti uma empatia desmesurada, sem reserva e com a simplicidade por mim desejada.
Esta “relação” surgiu através deste meio e por sorte a pessoa fantástica em causa, tem algumas fotos expostas, as suficientes para poder memorizar alguns detalhes da sua beleza.
Paguei a minha água, saí para o exterior do espaço comercial e aguardei tremelicadamente pela sua saída. (...)
Podem continuar a ler aqui.

3 comentários:

  1. Querida Rafa

    As vezes essa tal internet nos espanta com a demasiada "exposição" e "falta de privacidade" ne?

    Mas ja pensou se nunca tivestes colocado uma foto tua no blog? Esse encontro nunca teria acontecido.

    De repente esbarramos diaramente por pessoas "famosas" pra gente e nem nos damos conta.

    Então parabéns não so por ter um blog genial e conseguir transmitir a tua simpatia online, mas por te permitires ser TU MESMA.

    Quem tu és e o que escreves são coerentemente a mesma pessoa! Por isso que não da pra ler o odisseando e não sorrir :)
    e se o destino permitir: sorrir ao vivo contigo!

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  2. Oh meu Deus, como gosto de te ler... :)

    (segue de imediato sms)

    :) Beijos

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  3. Surreal, surpreendente, incrível!

    E quem te "convenceu" a ir viver para o «nosso bairro», quem? :D

    Como diz uma amiga minha: «O mundo é um penico»! E estas partidas do acaso são deliciosas!

    Gostei do texto, fez-me sorrir do princípio ao fim. E é sempre um deleite ler estes teus textos, acho que sim, já merecias um «Odisseando» publicado em papel! :)

    bisoussss (ainda ando muito francezusca...temos de meter a conversa em diaaaaa - ninguém diria que moramos juntas. OMG)

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