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Irmandade

31.8.10
Desde que me conheço, tenho este hábito terrível de querer que toda a gente goste de mim.
Aprendi a duras penas que gostar ou não gostar raramente depende da nossa acção consciente, mas sim de uma força maior qualquer que nos permite sentir empatia (ou desempatia) para com uma determinada pessoa. Comummente chama-se-lhe química.
Ao longo dos tempos fui aprendendo a lidar com o facto de nem toda a gente sentir empatia em relação a mim. Por vezes, perdia tempo a tentar analisar e compreender os motivos de um eventual desapreço (afinal, porque devo ser uma das pessoas mais simpáticas do mundo!) mas em vão. Aí está, nunca depende da minha acção.
Depois de muitos episódios frustrantes, de algumas conquistas de pessoas que à partida decidiram que nunca iriam ser minhas amigas mas que, com alguma dose de encantamento da minha parte, acabaram por sucumbir ao meu poder de friend-making, tentei descortinar o motivo de tal obsessão da minha parte. Por que carga d'água seria para mim tão importante fazer amigos ou que as pessoas gostem de mim??
Percebi recentemente que é por eu não ter irmãos.
Os irmãos são sangue, carne e amizade. São as pessoas mais próximas, da nossa geração, que nos acompanharão durante toda a vida. Não obstante todos os problemas, contrariedades, discussões, diferenças que possam existir no curso de uma vida, estarão sempre unidos pelo DNA e por um sentido de pertença profundo. E eu não tenho isso com ninguém. 
Mas o facto de nunca ter sido particularmente mimada ajuda-me a ser uma excelente amiga. Eu ofereço a minha máquina fotográfica a uma amiga quando já não a uso muito, eu faço transferências de 100 euros se um amigo está em dificuldades, e faço-o de forma tão natural como quem respira. De coração. Porque os meus amigos sustentam o meu.
Por isto tudo, de cada vez que uma pessoa não vai com a minha cara, levo a peito de uma forma dramática. Porque é menos uma pessoa no mundo que poderia ser um irmão de brincar.


7 comentários:

  1. Também não tenho irmãos, mas descobri com as lições da vida que prefiro o afecto desinteressado e verdadeiro de quem não partilha património genético e espaço familiar. Afinal, os amigos são a família que se escolhe; são afectos por afinidade em vez de por hábito ou obrigação. A amizade genuína não se corrompe com aspectos utilitários, distâncias e verdades. E é só desses amigos que faz falta ter. :)

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  2. Opá sim... é realmente isso que sinto muitas vezes... Queria muito ter um irmão mas como não tive essa sorte preciso que aqueles que considero meus amigos sejam mesmo meus amigos e há dias em que isso não acontece, ou por estarem mais cansados, ou chateados, ou sem paciência para o meu feitio e isso abate-me e fico logo a achar que inevitavelmente perderei mais um, que já não cativo ninguém e possivelmente acabo sozinha.. Mas depois penso que os que interessam mesmo, os que estão ligados por algum tipo de empatia inexplicável não são abalados pelas casualidades do dia-a-dia e que mesmo longe e mesmo não os vendo desde o Inverno eu sei que são amigos a sério e "irmão de brincar"... como tu! =)

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  3. Também se pode ter uma irmã quatro anos mais velha, com quem não nos damos mal, mas que tem prioridades, objectivos e uma forma de ver e viver a vida completamente oposta à nossa. Por essa razão, embora não havendo atritos nem grandes desentendimentos, é muito dificil partilhar o que realmente nos vai na alma, falar dos nossos planos, das ansiedades e expectativas, pois encontra sempre forma de nos fazer parecer que tudo o que queremos é uma tolice e tudo o que nos correu mal foi uma bênção, pois era um disparate. A sensação de frustração por não se ser compreendida pela irmã é ainda pior, porque pensamos "Caramba, é minha irmã. Como é possível que não entenda que isto é que me faz feliz?"

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  4. UAU! Isto podia ter sido escrito por mim... :/
    Palavra por palavra!

    Beijinhos ;)
    PS. Tinha saudades de ler-te

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  5. Não sei se vai se ofender... mas pareces uma brasileira!

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  6. @Ventania, uma boa amizade é sem dúvida o que descreves no teu comentário, mas apenas referes a parte negativa de se ter um irmão...e a parte boa? O saber que há ali alguém do teu sangue, alguém com um nariz igual ao teu, alguém que te defenderá para o resto da vida, pois cresceram juntos. Apesar de adorar os meus grandes amigos, acho que isto seria inigualável.

    @Sílvia, querida amiga, a adoração que sinto por ti é típica de irmão, sem dúvida nenhuma.

    @Descalça, sentes isso em relação à tua irmã, porque felizmente tens bons amigos com quem podes estabelecer a comparação de diferença de abordagem/intimidade entre eles. Mas creio que se fosses filha única, ficarias sempre na dúvida se terias sido abençoada com uma irmã-alma-gémea ou não. Como é o meu caso.

    @River, estou tão feliz com o teu comentário. Tenho-me esforçado por manter isto activo e animado. Tu é que devias ressuscitar o teu blog:) Um abraço e até breve!

    @zic, não sei por que me deveria ofender com a tua opinião. Adoro os brasileiros, por isso se estivermos a falar da musicalidade, da alegria típica deles, levaria isso como um elogio.

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  7. Tens razão, Rafaela. E, apesar das diferenças, estou feliz por ter uma irmã. Apenas queria dizer-te que nem sempre um irmão de uma idade aproximada nos entende assim tão bem ou é a pessoa que procuramos quando queremos partilhar algo que é importante para nós.

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