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Amuos com a RTP

5.1.11
Estou chateada com a RTP. Muito chateada. Aqueles tansos causaram-me momentos de tristeza e de tensão de forma desnecessária. Vou então relatar os factos.

Hoje às 13h00, ao chegar ao restaurante habitual para o meu almoço, olho para a televisão junto ao tecto e leio a seguinte mensagem no rodapé:

Mia Couto: Perdeu-se um embaixador da Cultura

O meu coração deixa de bater durante uns segundos. Fiquei lívida. Começo à procura dos telemóveis, do Blackberry para avisar os amigos mais próximos. Não tinha trazido nenhum dos dois. Ó meu Deus ,tenho de avisar já à Tina que ela está em viagem e não deve saber. Como é que isto pôde acontecer? Ele era tão novo. E o meu pai, tenho de lhe escrever também. Ofereci-lhe tantos livros do Mia Couto nos últimos tempos... Sentia-me tão frustrada com esta realidade que é perder figuras importantes da cultura da nossa geração. O meu coração acelerado com as emoções, dá ordem ao cérebro e ao estômago para não comer. O almoço ficou abandonado no prato. Eis que volto a olhar para o ecrã e vejo outra nota de rodapé:

Manuel Alegre: Desapareceu um grande amigo

A gota d'água acontece quando numa dessas notas de rodapé leio que Moçambique fica mais pobre. Passo uma autêntica meia-hora em estado de terror, pensando como poderia prestar homenagem ao Mia Couto no blog. Afinal de contas, o termo "Odisseando" é inspirado no livro "Cronicando" do autor moçambicano. Adoro-o. Ajudou-me a ver África de uma forma original, tocante e artística. Aprecio e admiro a forma como inventa palavras e a perco-me na musicalidade da sua escrita.

Mais tarde as mensagens de rodapé repetiram-se e vi então a primeira de todas (que dava o contexto a todo o rol de mensagens seguintes):

Faleceu Malangatana, o artista moçambicano

Pois...a RTP esqueceu-se que estava a citar o Mia Couto e o Manuel Alegre e que, por esse motivo, deveria ter colocado aspas antes das mensagens de condolências, sob pena de o espectador incorrer no erro de achar que se referia ao nome que antecedia os dois pontos.

A minha questão é: qual a dificuldade de colocar as aspas no sítio correcto? Seria tão difícil escrever:

Mia Couto: «Perdeu-se um embaixador da Cultura»


Nota: Não quero com isto obviamente menosprezar o falecimento de Malangatana. Sem dúvida que é uma enorme perda para África e para o mundo em geral. Mas Malangatana não mudou a minha vida nem me faria perder o apetite. O Mia Couto sim. 

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7 comentários:

  1. Também adoro Mia Couto! ;) Mais uma coisa em comum!

    Também não percebo qual é a dificuldade de usar as aspas no sítio correto! :)

    Beijinhos!

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  2. Mia Couto, uma delicia de escrita :)

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  3. Olá Rafaela,
    Por acaso, desta vez, acho que não houve qualquer erro nas notas de rodapé da RTP, pois creio que as mesmas não exigiam quaisquer aspas.
    Isto prende-se com uma diferença entre "citação" (normalmente de conteúdos escritos) e "transcrição" (a colocação a escrito de conteúdos orais, normalmente de entrevistas). De facto, as regras de citação exigem o uso de aspas, mas as da transcrição não. Normalmente a transcrição é feita com a identificação do autor seguido da frase transcrita, sem prejuízo de frases ou partes de frases transcritas poderem também estar entre parênteses, como uma citação, normalmente quando vêm inseridas num outro texto.

    http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2001-redip-transcricao.pdf

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  4. Olá Pai Macaco, é tão bom termos amigos advogados que nos dão estas dicas fabulosas.

    Vou analisar o documento que me envias. De facto desconhecia esta diferença entre citação (escrito) e transcrição (oral). De qualquer forma, sem querer entrar em preciosismos linguístico-legais, a ausência de aspas e inexistência de qualquer contexto induz o leitor em erro, não achas? Daí que eu considere - visto tratar-se de um espaço onde cabe um número reduzido de caracteres - que a mensagem deveria ser o mais inequívoca possível. Nem que fosse, por exemplo, um:

    Perdeu-se um grande homem - Mia Couto

    (o travessão marca abertamente uma fala, tendo logo à frente o autor da mesma)

    Um abraço.

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  5. Concordo contigo. Não houve um erro, mas incúria. A forma como o texto foi apresentado podia realmente induzir uma pessoa em erro.

    Ósculos!

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  6. Não me recordo como fazia a RTP as transcrições, normalmente, no rodapé do Telejornal e/ou Jornal da Tarde. Nem sei se o sistema permite o uso das aspas no rodapé, já não me lembro. Mas como bem refere o Pai Macaco, as transcrições são diferentes e não exigem o uso de aspas.

    Também eu fui induzida em erro tal como tu. E isto acontece porquê? Notícias descontextualizadas, a essa notícia, no rodapé, certamente terá precedido a notícia do falecimento do Malangatana e que terá sido seguida dos comentários dessas personalidades ilustres.
    Caso tivesses apanhado tudo de início não terias certamente sido induzida em erro.

    Quando me falaste nestes amuos da RTP, confesso que abri a página, mas só li o título. Chamava-me uma revisão de "The Good Wife" e mil uma coisas mais.

    Chego a casa...leio o post a pensar em mais alguma bela posta de pescada erroneamente mal escrita no rodapé da RTP e fico então a saber do falecimento de Malangatana...pelo teu blogue. É o que faz não ter TV portuguesa (e nem qualquer uma outra) à hora de almoço e não ter lido qualquer jornal português até estas horas.

    Uma grande perda, com certeza. Gostava bastante do seu trabalho.

    Outra achega no que toca ao rodapé da RTP. Sei, por experiência, que é alvo de muitas críticas. Primeiro, acho desnecessário estar sempre a passar um "ticker" enquanto decorrem as notícias - desvia a atenção das pessoas do que realmente importa; é repetitivo, devia reciclar a informação diariamente e não acumulá-la durante semanas com as actualizações.

    PRIMEIRÍSSIMO DE TUDO, a informação do rodapé NÃO SÃO LEGENDAS, e muito menos traduções e nem trabalho de tradutores. Quantas reclamações não me passaram quando ligavam para a RTP a dizer que "as legendas" do telejornal estavam mal ou tinham erros...quando afinal falavam do "ticker" que passava em rodapé. E não era trabalho da nossa competência. O departamento de legendagem está num edifício e num departamento totalmente distinto. Este rodapé, sendo informação directa da emissão, é portanto responsabilidade do departamento de informação - para o caso de algum dia quererem fazer alguma reclamação.

    A informação que passa em rodapé, muitas vezes é inserida em directo por outros técnicos, não por tradutores.

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  7. Sim senhora, querida Miss Ana. No entanto, sei bem que o departamento de legendagem faz um óptimo trabalho. Parece-me que o Pai Macaco tem razão relativamente ao não uso de aspas, mas de qualquer forma foi um choque para mim. E aqueles minutos de aflição até ler a mensagem de rodapé de contexto novamente ninguém mos tira. :(
    Beijo grande para ti.

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