Courtney Cox com a cara paralisada.
Não devido ao medo do assassino atrás dela, mas devido ao botox.
As casas são sempre enormes. Com sótão, com cave, com corredores escuros e muitas portas, portões e portinholas. Ouvem-se estalos da madeira. Ouvem-se passos apressados. Ouve-se o próprio coração que acelerou sem sair do lugar e ensurdece o corpo naquele ritmo veloz. Existe sempre um jardim com árvores. E o alpendre - nunca falta um alpendre, onde invariavelmente fica sempre alguém pendurado e a gotejar sangue.
Quando a cena não se passa na própria casa, é numa garagem ou num parque de estacionamento. Ou então dentro do próprio carro, porque o assassino está sempre escondido no banco de trás.
Nós que crescemos a ver filmes de terror quase pop (a trilogia de Scream, Chucky, Sei o que fizeste no Verão passado ou Pesadelo em Elm Street) já sabemos bem como funciona. O que não significa que sejamos imunes ao medo e aos gritos de horror. Não, assustamo-nos na mesma porque os tipos da pós-produção destes filmes colocam sempre aqueles sons pontenciados quando o assassino aparece. E os berros são mais agudos do que o restante volume do filme. E isso assusta, claro.
Neve Campbell, famosa pelos filmes Scream 1, 2 e 3.
Está igual ao que era em 1996.
Eu devia ter 13 anos quando vi o Scream 1. Quando somos miúdos e os pais nos proíbem ver "essas porcarias" (ou seja, filmes sem grande conteúdo que não ensinam nada a ninguém), ir ver um filme de terror ao cinema é o cúmulo da autonomia e da rebeldia. E é sempre uma desculpa para nos agarrarmos a algum rapaz giro e gritar muito alto. Vi o Scream 2 também um ano depois. Nunca cheguei a ver o terceiro porque quando estreou já tinha uns 17 anos e - bolas - era muito crescida para isso. Pois.
Há uns dias fui ver o Scream 4, que estreou exactamente 15 anos depois do primeiro. E senti-me uma adolescente novamente. É ingrato realizar uma sequela, principalmente depois de a década de 2000 ter sido marcada por filmes de comédia que satirizam os filmes de terror (a série Scary Movie), o que acaba por desvirtuar todo o género. No Scream 4, o Wes Craven foi buscar novamente a Neve Campbell (que deve a sua carreira quase exclusivamente aos restantes filmes da série Scream), o David Arquette e a Courtney Cox. A Neve Campbell está praticamente na mesma: mesmo corte de cabelo, mesma cara de adolescente rebelde. O David Arquette continua com o seu bigodito parvo e está igualzinho. A Courtney Cox - coitada - tem a cara deformada de tanta plástica e tanto botox que meteu no seu lindo rosto. É uma pena, porque é - ainda assim - uma mulher muito bonita.
O filme é um verdadeiro desfile de jovens estrelas de Hollywood, conhecidos pelas participações em séries, como a Anna Paquin (já oscarizada com O Piano), Hayden Panettiere (famosa pela série Heroes e linda de morrer com o corte de cabelo radical), Adam Brody (ídolo das teenagers em O.C), Rory Culkin (o mais novo dos 19 mil irmãos de Macaulay Culkin), Kristen Bell (a actriz de Veronica Mars e a voz-off de Gossip Girl) e finalmente a jovem Emma Roberts (sim, o apelido não engana: filha de Eric Roberts e sobrinha de Julia Roberts) que certamente se lança para o estrelato com este filme.
Ora, o filme começa de forma muito original: filmes dentro de filmes. A storyline do Scream 4 é arrebatadora. Com os anos vamos aprendendo que se existem demasiadas pistas contra uma determinada personagem, já sabemos que aquela personagem não pode ser a culpada. E também sabemos que aquela pessoa que é muito boazinha, meiga e querida também não é flor que se cheire, por isso aprendemos a desconfiar dela também. Ora, o assassino acaba por ser sempre alguém de que não se desconfia nunca, pelo que toda a história tem de estar construída de forma a nunca levantar suspeita sobre ele e compete ao autor distrair a atenção do espectador daquela personagem em particular, para que ele nunca se pergunte "Então e se o assassino for aquele...?".
Neste filme há muito sangue, muitas facas grandes que perfuram testas, corações, pescoços, barrigas e pulmões. E, em todas vezes, fecho os olhos porque não quero ver. E agarro-me à amiga que está ao meu lado e digo muitos palavrões, rogando pragas ao momento em que decidimos ir ver aquele filme "porque era capaz de ser divertido". No entanto, o verdadeiro ponto forte do filme é a forma como os autores conseguiram adaptar uma história que nada tem de novo aos tempos modernos, integrando as novas tecnologias, o Facebook, o Twitter, as webcams e obsessão pelo mediatismo e a celebridade.
No final, ainda atordoadas pelo filme que durante 2 horas nunca nos permite recuperar o fôlego, entramos num táxi e vamos para casa. Com a voz trémula, pedimos ao taxista que nos deixe na nossa morada. Entramos no prédio a medo, chamamos o elevador e, já lá dentro, tocamos no número correspondente ao nosso andar. A porta do elevador fecha-se lentamente e ficamos naquela espera aterradora e que, mesmo no exacto segundo antes de se fechar completamente, vejamos uma mão a travar a porta e o assassino a entrar para nos matar. Sim, porque os elevadores são sempre os locais perfeitos para morrer.
.
A saga Scream, foi sem dúvida, das que mais marcou a minha adolescência cinematográfica.
ResponderEliminarRecordo-me que vi o primeiro filme no cinema (já há 15 anos, como é possível???!), assim como que por acidente e desde logo fiquei fã. Vibrei com aquilo ao máximo, lembro-me tão bem... Aquilo pra mim era Deus no céu e Neve Campbell na terra.
Na altura trazia muita coisa nova ao cinema de terror, era um género novo que quebrava todas as regras já existentes no cinema do género. Foi uma fórmula de sucesso, sem dúvida, que depois também veio dar origem a que se realizassem muitas mais porcarias na mesma linha ("Sei o que fizeste o verão passado", e afins), mas sem metade da piada, claro.
Sei que depois vi o 2 e o 3 também no cinema, e cada um decepcionava mais que o outro. Os mesmos clichés, aquilo só mudava os penteados dos actores.
No entanto, é com algum carinho que ainda guardo os VHS dos 3 filmes em casa dos meus pais.
Este Scream 4 foi para mim uma grande surpresa quando há uns bons meses atrás ouvi falar dele pela primeira vez. Mas tenho pena de ter perdido aquele entusiasmo teenager que possuía para ir vê-lo ao cinema agora.
Algo me diz que se o fizer, me posso arrepender até.
Eu era um grande fã do Scream, assumo. E por isso mesmo tenho medo de sair da sala de cinema envergonhado, agora.
Engraçado como as nossas prioridades e gostos mudam tanto. E ainda bem, né? :)
Mas o melhor de tudo é continuar a descobrir coisas novas sobre ti, que ambos temos em comum.
Gostei deste post. Muito revival.
Beijos, soul-sister.
ahahah, pelos vistos meteu mesmo medo, pela cena que descreves do elevador ;)
ResponderEliminare eu, que antes morria de medo do Freddy Krueger, ontem à noite deixei-me dormir a ver um dos Pesadelos em Elm Street (não me lembro qual). Adoro filmes de terror, mas se é para meter medo, é para meter medo (e suspense), senão não vale a pena. :)
bjs
Bem, eu que achava que a série dos "Scream" estava morta, fiquei curiosa. Enjoei muito rapidamente da fórmula do terror "adolescente", mas ainda tenho um certo carinho pelo primeiro filme. Talvez ainda o vá ver com a companhia de um balde de pipocas como manda a lei.
ResponderEliminarAcabei de ver o filme e gostei bastante! Está aqui uma belíssima descrição.
ResponderEliminar