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Maior do que a vida, dizem eles

27.5.11

Barney - (...) And I'm just going to keep talking
because I'm afraid if I stop there's going to be pause, or a break,
where you'll say "it's getting late" or, "I should probably get going"
and I'm not ready for that to happen,
I don't want it to happen. Ever.

Miriam - There it was. The pause.

Barney - Yeah.

Miriam - I'm still here.

Em inglês existe aquela expressão intrigante "larger than life" que nunca soube muito bem o que significa. Tem calhado vê-la traduzida como "maior do que a vida", mas é o que chamo uma má tradução, porque não me transmite absolutamente nada: nenhuma sensação, nenhuma noção concreta de quantidade ou qualidade, nenhum conceito abstracto. No entanto, compreendo-a quando a vejo ou ouço num determinado contexto.

Associando esta expressão ao mundo do cinema, houve 3 filmes que vi durante a minha vida que posso considerar "maiores do que a vida". E aqui crio já uma definição minha: filmes tão grandiosos que a metade dos mesmos já não me conseguia lembrar do início. Ou seja, parece que aquele filme continha uma história que acompanhava há anos, como uma série longa de televisão, ou como uma história que nos é contada desde a infância.
Aconteceu com o A vida é bela e com o Big Fish. O Big Fish foi o último filme que vi no cinema que transformou as minhas entranhas e brincou com a alma de cada célula minha. Os italianos chamam sconvolgente, os ingleses overwhelming, em português resisto à palavra avassaladora porque acho que é um pouco diferente. Mas adiante.

Ontem vi um filme destes. O Paul Giamatti já tem habituado o seu público a interpretações excelentes, embora a sua carreira se tenha desenvolvido sobretudo nos filmes dos circuitos independentes. Nunca o tinha visto no papel de protagonista - aliás, li recentemente que ele é o actor principal mais improvável do mundo. Não é bonito, mas também não é horroroso. É um dos poucos actores tragicómicos que os Estados Unidos produziram: usa o humor mas não nos faz rir às gargalhadas. Ficamos sempre ali num impasse com ele, pelo que tem construído a sua carreira um pouco à margem das luzes da ribalta (em termos de rendimentos nas bilheteiras, claro está). No entanto, ele tem um ponto a favor: provoca ternura no público.

Neste papel em particular, Paul Giamatti é um homem que se casa três vezes e está longe de ser um marido exemplar. Só para vos dar um exemplo: conhece a terceira mulher (e amor da sua vida) no seu segundo casamento. No copo d'água. O ridículo da situação revela-se rapidamente uma grande prova de amor. E o Giamatti tem o condão de transformar uma personagem por vezes irritante e detestável numa personagem amada pelo público. Torcemos por ele instantaneamente como se fosse o nosso melhor amigo.

Dustin Hoffman é brilhante (como sempre?) e concede momentos de gargalhadas e ligeireza a um público que está sentado na cadeira sem saber muito bem o que esperar do resto do filme. Aqui se vê a mestria do realizador que, mesmo revelando logo de início um Paul Giamatti já velho - e o filme ser passado através de flashbacks - nunca transmite qualquer atmosfera de tragicidade ou de final feliz. Andamos numa dança dúbia e hesitante enquanto entramos na história dos protagonistas.

Não sendo uma pessoa lamechas por natureza, acabei por chorar muito com o filme. Não chorei no final, nem sequer quando se adivinhavam os últimos minutos, mas quando percebi que iria ter de me despedir do Barney para sempre. 


Não se pode atravessar uma vida sem ver "A minha versão do amor". 

12 comentários:

  1. Arrepiei-me toda só com o trailer. Se estiver cá nos cinemas, amanha vou tentar lá ir ver. beijos e obrigada pela partilha.

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  2. Ontem quando publiquei isto vi o trailer pela primeira vez e fiquei ligeiramente indignada, porque o filme não é a comédia que o trailer sugere. Mas nos segundos finais, começou-se-me a apertar o coração e deu-me vontade de chorar.
    E agora voltei a vê-lo pois disseste ter ficado arrepiada e senti exactamente o mesmo de ontem. Acredita Andorinha, é tão bonito e tão emocionante...bolas, tens mesmo de ver. E depois conta o que achaste. Please.

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  3. A minha experiência larger than life não veio do cinema, veio da peça "Arte", de Yasmina Reza. Que enorme murro no estômago. E que vontade de rever.

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  4. Quero muito ver este filme também, e ainda mais depois do teu post, porque a Vida é Bela e o Big Fish também estão entre aqueles filmes que me conseguiram tocar mais que todos os outros. E um bom filme sobre os relacionamentos humanos e o amor nunca é demais.

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  5. Sãozinha, não conheço essa peça, mas fico com curiosidade. Muito melhor do que ler críticas num jornal ou revista são os comentários que os amigos nos fazem sobre determinada coisa. Quando puderes, avisa onde posso ver essa peça. :)

    Merenwen, obrigada!! Também sinto o mesmo e obrigada por sentires empatia com o que escrevi. :) Bolas, estes filmes fazem falta. Mas pronto, se fossem comuns, também não seriam tão especiais, certo? :=)

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  6. Vi ontem e também gostei muito. Saí do cinema com a alma cheia. Gosto de filmes que me emocionam e este foi sem dúvida um deles.

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  7. Rafa, vi-a há uns anos atrás (para aí em 2000, ou 2001) magnificamente interpretada por António Feio, Miguel Guilherme e José Pedro Gomes. Sinceramente, não sei se voltaram a encená-la. Podes sempre tentar comprar a peça e lê-la...é fabulosa. PS: eu própria ando há uns anos a tentar encontrar, em livro, a dita.

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  8. Obrigado pela dica :)

    A história e a mensagem do filme está bem descrita no teu post... permite-me acrescentar que o guarda roupa, fotografia, "real scenarios"... são um mimo em tempo de mundos computadorizados sobre uma tela verde choque.

    Nice movie ;)

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  9. James, foste ver?? A sério? Gostaste então? :) Fico feliz por teres seguido um conselho meu.:) beijo para ti

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  10. Vi na passada semana; foi impossível resistir ao teu apelo.
    Gostei! (de cada detalhe, e são muitos!)
    Quanto a uma opinião... (deixa-me ser um pouco preguiçoso), revejo-me nas tuas palavras :).
    Outro para ti ;)

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  11. Acabei de ver o filme. Não me tocou tanto como a ti, mas gostei muito. Talvez me tivesses posto as expectativas demasiado elevadas, e faltou-me qualquer coisa para ser magnífico.

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  12. Oh well, isto tb não são horas de ver filmes...
    Gostei, dough!

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