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Conversa surreal no Rio #2

10.2.14
Vim trabalhar para um espaço de cowork no centro do Rio. Vou tentar ignorar o facto de o escritório ter alcatifa - num local quente como este. Pronto, facto ignorado. 
O espaço é gerido por um senhor de sessenta e poucos anos que tem dupla nacionalidade brasileira e espanhola, mas que nunca foi à Península Ibérica. É católico. Percebi-o no momento em que não me pergunta como é Lisboa, mas em que diz que quer muito conhecer Fátima. Tá. Mais tarde convence-me a ir visitar a cidade de Aparecida que fica a uns 200 km do Rio. Eu explico-lhe, gentilmente, que quero conhecer Salvador, São Paulo e Brasília e que essas são as minhas prioridades. Ele menciona que morou em Brasília e avisou-me que as pessoas lá têm "mentalidade de interior, como lá em Portugal". Eu, com um sorriso amarelo, digo-lhe que Portugal, em bom rigor, não é interior, é um país de litoral. O senhor volta a repetir a ideia "não, não, mas em Brasília as pessoas são fechadas, é muito difícil falar com elas, como com os portugueses". E eu, tendo em mente que estou a falar com um senhor de mais de 60 anos, pergunto-lhe - sempre gentilmente - se ele conhece muitos portugueses (não conhecia nem sequer um) e digo-lhe que, embora sejamos menos extrovertidos que os brasileiros, enquanto povo, que somos gente muito simpática. Vejo o homem a suar em bica. A campainha toca. Era o office boy. Disse-me que falávamos mais tarde porque tinha de atender o rapaz. Não posso jurar, mas acho que ele agradeceu baixinho à sua Nossa Senhora da Aparecida por ter sido salvo pelo gongo.

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