Começo por confessar-vos já uma coisa: eu gosto de coisas. Gosto mesmo. Gosto de comprar jornais e revistas, acumulá-los na mesa da sala ou no parapeito da janela até ter uma manhã inteira sem nada para fazer, para poder sentar-me no tapete vermelho felpudo da sala e folheá-lhos um a um. Gosto do meu tapete vermelho felpudo do Ikea, que custou 45 euros e que a Sílvia me obrigou a comprar porque ela diz que um tapete dá personalidade a uma casa. Gosto do meu jarro de barro que eu comprei àquele indiano simpático no Largo de São Cristóvão, roxo às riscas brancas, que faz um pendant curioso com um tabuleiro pequenino roxo às bolinhas brancas. Gosto de olhar para a minha estante, iluminada por um fio de bolas de linho, em tons amarelo e mostarda, de ver a minha colecção dos livros de Saramago que ocupava metade de uma prateleira inteira. Gosto da minha máquina de escrever azul clarinha, que foi o meu presente de Natal de há dois anos. Gosto da minha arca, que me ofereceram os ex-colegas de trabalho e na qual enfio atabalhoadamente as coisas que não têm arrumação quando surgem visitas inesperadas. Tenho coisas bonitas, sem nenhuma relação ou harmonia entre elas (como aquelas pessoas que só têm tudo em cor bege, ou em branco, ou em preto). Não, há dias em que acho que o vermelho é a melhor cor do mundo, outros em que só consigo digerir o preto, outros em que o laranja me enche as medidas e outros em que o verde e o lilás andam de mãos dadas. E tenho muitas coisas, em todas as cores e estilos possíveis.
Neste momento estas coisas bonitas estão enfiadas todas em caixas e estão espalhadas por 6 casas em Lisboa e eu vivo com uma mala de 30 kg, cujo metade do conteúdo ainda está dentro da mala. Sei que não preciso de muito mais, eu sei, mas ando a ressacar o simples estar no meio de um ambiente composto pelos meus objectos. Sei que é uma questão de tempo e que esta sensação de despertença vai ser atenuada. Mas custa horrores.
pratica o desapego!! :-)
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminaré como acordar numa casa que não é a nossa
ResponderEliminarTem gosto com desapego, como quem aprecia um sol a pôr-se sem o fotografar :)
ResponderEliminarDeve ser um exercício libertador, mas sim, as pequenas coisas que temos, que vamos comprando e que constituem a nossa casa fazem muita falta. There's no place like home não é? :)
ResponderEliminarMiss u*