A ideia em si era boa. Deixar a minha casa da Mouraria, cujo sofá já tinha ganho a forma do meu corpo, afastar-me por uns tempos das ruas que conhecia de olhos fechados, dos amigos que me davam a mão e se passeavam comigo por esta vida, da familiaridade do meu contexto. Não sendo um plano definitivo (ir e nunca mais voltar, nem nesta vida, nem nas próximas), fiz um esforço para retirar daqui todo o drama possível. Não fiz festa de despedida, acenei ao de leve às pessoas, fiz a mala e pus-me a caminho.
A ideia, volto a repetir, era boa. Iria ficar 3 meses em cada cidade, mas sempre quis assegurar a mim própria que teria flexibilidade para fazer o que me apetecesse. Não assinei contratos, não me comprometi com ninguém, por isso poderia ficar numa das cidades apenas 2 meses, se realmente estivesse em sofrimento, ou 6 meses, caso estivesse a gostar muito. Ou para sempre, que isto nunca se sabe. E aconteceu eu decidir ficar os 6 meses no Rio. O plano inicial de 3 meses permitia-me conhecer uma cidade e os costumes locais, fazer bons contactos, criar hábitos diários diferentes - acreditem, esta mudança de hábitos é um excelente exercício de vida - e, se tivesse sorte, fazer alguns amigos. Nesses 3 meses, muito dificilmente se criam laços para uma vida inteira, daqueles difíceis de cortar, por isso o momento da partida não seria à partida difícil. Desculpem-me a redundância.
Mas, em 6 meses, o caso pode mudar de figura. Os amigos que entretanto fiz tornam-se pessoas fundamentais na minha vida. As rotinas que criei vão tornar-se parte de quem eu sou. Não vou conceber a possibilidade de não sair para passear no calçadão quando me apetecer. Não vou achar graça a um prato de comida sem o feijão preto ali do lado. Não vou conseguir imaginar o que é deixar de vir para o escritório na Gávea que se tornou uma segunda casa para mim. Não sei o que vai ser de mim quando o Brasil me estiver totalmente entranhado na pele.
É a primeira de cinco cidades e já comecei a sofrer. Isto vai ser bonito, vai.
Sabes que podes sempre ficar e fazer do Rio a tua terra.
ResponderEliminarEh eh, não...acho que o Rio é bom para ser amante, para dar umas escapadinhas de vez em quando. It's not marriage material :)
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ResponderEliminarmas admite, não teria tanta piada se corresse tudo conforme planeado =P
ResponderEliminarVai dizer isso à minha conta bancária (as taxas que eu pago aqui por cada levantamento...). #minhanossasenhora
EliminarE é lindo as experiências que nos marcam! Vai em frente o coração aguenta!
ResponderEliminarE claro que quem fica 6 meses, ainda estica um pouco mais... ;)
ResponderEliminarNão há mesmo hipótese :) Legalmente, só posso ficar 180 dias no país com o visto de turista. Claro que há muitos portugueses que ficam sem visto, o problema é voltar a entrar. :)
EliminarAdmiro muito esta tua capacidade de pular de sítio em sítio. E de seres independente. Eu já estaria borradinha de saudades e teria apanhado o primeiro avião de volta ao fim de uma semana...
ResponderEliminarQuerida Sãozinha, vou falar sobre essa questão das saudades. Eu estava totalmente integrada em Lisboa e tinha uma vida simpática. E, em bom rigor, este "pular de sítio em sítio" é relativo. Eu fico algum tempo nos lugares, ganho algumas raízes...e precisamente quando começo a ficar confortável, vou embora. Não é fácil, mas quando se sabe que uma coisa é temporária, ajuda. :)
EliminarA vida traz sempre estas surpresas, Rafa. O problema é que vamos sempre familiarizar-nos e criar raízes onde quer que pousemos. Vais sempre ter de lutar contra estes sentimentos contraditórios. Podes sempre fazer do Rio a tua casa e depois vou-te visitar... ;)
ResponderEliminarBeijo grande miúda*
Querida Analog, tens razão. É uma luta I signed up for :) Mas não, não quero fazer do Rio casa. Mas podemos ir visitá-lo juntas no futuro, sim! Beijo enorme.
EliminarOh que sensação tão boa! Também deve ser difícil não se sentir feliz no Rio :)
ResponderEliminar@Karma, há muitas coisas más, mas no geral é muito bom estar cá. :))
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