menu-topo

The Lonely Traveller

20.5.08


Apercebi-me de que gosto de viajar sozinha.

Voltei ontem de mais um fim-de-semana expresso numa cidade europeia maravilhosa,  Barcelona, ou a Londres latina como há quem lhe chame. Fui, mais uma vez, com o M. Temos viajado por toda a Europa e também fomos juntos a Nova Iorque. Damo-nos muito bem, como amigos e como travel buddies, mas acho que prefiro viajar sozinha. E ele é pacientíssimo comigo quando quero fazer alguma coisa ou prefiro ver uma em detrimento de outra. Calma, é claro que há coisas positivas em viajarmos acompanhados, quando algo é indescritivelmente bonito é maravilhoso termos ali alguém ao lado que testemunhe a mesma coisa que temos perante os nossos olhos. Mas nem sempre duas testemunhas do mesmo facto interpretam as coisas da mesma forma.

Porém, a grande questão é que apenas sozinhos conseguimos sentir a energia que a cidade brota.
Quando vamos acompanhados, temos de nos sujeitar a sermos educados e respeitar a opinião do outro: "ah eu não gosto de cerveja, peçamos antes um jarro de sangria"; "ah, mas ir ao centro histórico outra vez? Não, vamos antes à praia porque está sol"; "mas queres ir à livraria fazer o quê, vamos antes ao mercado"...Ou seja, perdemos energia a encontrar um ponto de acordo e desviamos a nossa atenção do mais importante: absorver tudo o que um novo ambiente nos dá.

Em Agosto de 2006, aventurei-me numa viagem sozinha - e algo longa - pela costa mediterrânica de Itália. Vi Salerno, Capri, Pompeia, Nápoles, Roma, Siena, Florença, San Gimignano, Cinque Terre em 16 dias. E foi inesquecível.

Ao início sente-se medo e nervoso no estômago: será que vou ter de comer sozinha, será que vou conhecer alguém especial, será que vai ser perigoso, será que vou apanhar bom tempo, será que me vou sentir só.
Leva-se livros, guarda-chuva, agasalho, agenda com endereços de pousadas e pensões, umas 3 ou 4 diferentes para cada cidade, não vá o diabo tecê-las e o guia turístico em que confiámos estar desactualizado. Foi inesquecível. Livros...não li nem uma página. E o resto foram só fotos e memórias de gente divertida e ousada que encontrei pelo caminho. Fiz amigos nesta viagem com que permaneço em contacto até hoje, volvidos dois anos. É sempre bom manter as portas abertas com pessoas de Los Angeles, de Vancouver, de Zurique, de Wellington, de Sidney para quem sabe reencontrar mais tarde e relembrar as noites na pousada desarrumada de Roma, da censura aos nossos tops decotados no Vaticano ou na pensãozinha simpática de Siena com a dona que falava e não dizia os "c", típico do sotaque toscano e quando bebíamos Chianti ao pôr-do-sol. Ou então quando comprei um telemóvel de último modelo a um rapaz apressado perto da estação de Nápoles e quando abri a caixa, afinal era uma garrafa de água. Ou então quando estamos sentados nas rochas de uma praia maravilhosa na costa da Liguria e alguém toca viola para nós e todos cantamos...São memórias inevitavelmente inesquecíveis que partilho com pessoas dos quatro cantos do mundo.

A segunda vez que me aventurei numa viagem sozinha foi em Agosto do ano passado.
Fui a Paris. Paguei 20 euros por um bilhete de avião de ida e volta. Paris sempre fez parte do meu imaginário desde criança: tinha estudado francês durante anos e anos e nunca tinha ido a França. Por isso, ver a Torre Eiffel, o Museu do Louvre, mesmo sozinha e sem ter de ninguém para me tirar fotos e registar aquele momento para sempre (e ter de ser eu a equilibrar a máquina em cima de um muro, ou colocar uma sandália na vertical e pousar a máquina ali com muito cuidado, perante o olhar de pena e ao mesmo tempo de admiração das pessoas que passam, "deixe lá, eu tiro-lhe uma foto, não se preocupe" e depois ter sempre aquele instinto de escolher uma pessoa que pareça séria e correcta e que não nos fuja com a máquina no momento em que lhe passamos para a mão) foram momentos meus e foi bom tê-los só para mim. Sem ter de dizer a ninguém: ah como é bonito, ah tal e qual à ideia que tinha. Não, aquilo faz parte da minha história, momentos em que respirei o ar de Paris, em que passei 3 horas sentada num café a ler os panfletos que ia recolhendo pela cidade, em que as mulheres se metiam comigo e perguntavam se eu queria ir passear com elas (três lésbicas abordaram-me em 3 dias, verdadeiramente espantoso)...
Apenas quando estamos sozinhos é que sentimos a vontade (não necessidade) de conhecer outras pessoas, como aconteceu na pousada onde eu fiquei, em Montmartre. Para mim Paris estará sempre associada à C.J, a australiana que caminhou quilómetros e quilómetros comigo, com quem folheei livros eróticos, livros de moda, livros de arquitectura durante horas na famosa Mona Lisait, com quem experimentei soutiens lindos nas lojas de lingeries - que raramente têm cabines de prova - e nos cobríamos uma à outra, e com quem falei das minhas relações, das minhas perspectivas de futuro. Uma pessoa que tinha conhecido 8 horas antes mas que era a minha companheira de viagem, logo minha amiga para sempre.

Por isso, depois de tantas viagens, de tantos países diferentes, de tantas fotografias e de tantas memórias, chego à conclusão que é sozinhos que viajamos. Na verdadeira acepção do termo.
.

1 comentário:

  1. Nunca viajei sozinha, mas tenho esse sonho. Tem vencido sempre o medo e o receio de que me aconteça alguma coisa. :-)

    ResponderEliminar

AddThis