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Eu e a Escumalha

24.6.09

Em Milão moro numa área conhecida por ser um bairro de transsexuais. Se ainda fossem como a Roberta Close, podia ser um regalo para os olhos. Mas não. São feios, com poros salientes mas sem barba, com queixo e costas largas que os denunciam imediatamente. Isto para dizer que a minha zona não é bonita.
No entanto, há um restaurante chique mesmo à frente do meu prédio. É uma trattoria fina só com gente elegante lá dentro. Enfim, um pequeno raio de sol no meio dum ambiente com toques de favela. Fui com a Holly, a minha amiga inglesa com quem moro, lá jantar umas duas vezes.
O empregado, um rapaz jovem, muito giro, revelou a sua simpatia e disponibilidade desde o primeiro segundo em que colocámos o pé naquele sítio: tira-nos o casaco e coisas assim. Depois o giro rapidamente deu lugar ao "azeiteiro" ou, como dizem os italianos, "tamarro": quando vi aquela tatuagem no pescoço com as suas iniciais perdi logo qualquer tipo de consideração que tinha por ele. Mas adiante.
Nas vezes em que jantámos lá - comida deliciosa tenho de admitir - flirtou descaradamente comigo: "Ah, amanhã vais viajar? Que pena não estares cá neste fim-de-semana"; "Mas porque é que nunca te vi nesta área se vives mesmo aqui à frente?"; "Tens uns cabelos tão bonitos"...isto tudo enquanto me servia spaghetti alle vongole ou filetto al pepe verde! Até o cartão de visita pessoal me deu: um cartão preto com uns lábios cor-de-rosa enorme - parece que era relações-públicas numa discoteca de bairro chamada "Baci". Oh senhor!
Nunca mais pensei nele nem dei crédito a estes pequenos avanços.

No outro dia estava a chegar a casa por volta da meia-noite e, enquanto abria a porta do prédio, oiço uma voz que me chama "hei, hei". Obviamente nunca olho, mas este insiste tanto que me volto para ver quem me importunava. Era o Francesco que estava a vir na minha direcção.
- Vi logo que eras tu, uma mulher tão bonita nesta área. O que vais fazer agora?
- Tendo em conta que já passa da meia-noite, eu vou dormir.
- A sério, mas não queres ir sair um bocado?
- Não, não. Agradeço, mas estou cansada.
- E olha, quando é que saímos os dois?
- (cansada, a querer subir, com as lentes de contacto que se me secavam nos olhos) Bem, tu deste-me o teu cartão, depois logo te ligo um destes dias, tá?
- Mas que número é que tu tens? Não me ligues para o telemóvel. É que eu tenho uma namorada e podes meter-me em sarilhos!!!
- Ah sim, tens namorada?
- Sim, sim, mas podemos sair à mesma.
- Hmm..não me parece.
- Vá lá, podemos divertir-nos à grande. Principalmente tu!

Porque é que estes homens italianos acham que sair com eles é um favor que fazemos a nós próprias? Já não bastava o outro a dizer: Ah, mas não queres voltar a sair comigo porquê? Eu sou um rapaz tão bonito... e agora aparece-me este azeiteiro que ainda por cima acha que eu é que me ia divertir à brava com as suas habilidades sexuais.

Há homens normais por aí?


7 comentários:

  1. ahahahahahaha
    :-)


    quem diz que os gay são muito promíscuos não tem amigos heterossexuais :-p

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Gosto tanto de te ler!!! É que consigo imaginar na perfeição toda essa cena!

    Beijinhos e até para a semana ;) eheheheh

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  4. Aahahah
    Muito bom. Adorei esta história da vida real :p
    Muito bom. Opa e a coincidência e que tinha aprendido esta palavra ontem mesmo através do meu amigo italiano daqui. "Tamarro" que é bem semelhante com o nosso "matarro"!

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  5. Concerteza que os há normais por aí, é uma questão de acertar neles, mas geralmente não são tão pavoneantes :)

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  6. Ups, com certeza e não concerteza! so sorry mas às vezes lá se dá um pontapé inadvertido na gramática.

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