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O dia da maior odisseia de todas...

20.8.09
Manhã

Acordei muito cedo.
De manhã tinha de ir ao INPS, vulgo Segurança Social italiana, pedir uma declaração em como havia descontado cerca de 500 euros todos os meses para a Segurança Social...dinheiro esse que nunca mais vou ver na vida.
Depois quis comprar um souvenir antes de me ir embora, qualquer coisa para mim, visto que não fui a nenhuma loja durante os saldos milaneses e queria ir-me embora com uma coisa simbólica italiana. Fiquei-me por um par de óculos brancos da Armani. Giros.
Fui comprar também uma trolley azul turquesa na Carpisa. Saldos de 30%, nada mal.
Toda a manhã senti níveis de stress altíssimos, seja por a hora da partida estar a aproximar-se, seja porque a mala custava a fechar e ainda tinha coisas espalhadas pela secretária que não fazia ideia onde as iria enfiar. Além do stress tinha um amargo na boca, aquela sensação que não conseguimos identificar a 100%, seria medo, excitação, pontinha de arrependimento por ser tão impulsiva e espontânea? Também desestabilizada porque tinha recebido um e-mail do meu ex em que pedia para nunca mais o contactar e em que ameaçava apagar todo o meu blog através dos seus conhecimentos de hacker só porque não acatei ao seu pedido - que me tinha feito semanas antes - de apagar toda e qualquer referência à nossa história amorosa neste meu blog. Fez-me até uma lista num documento word, de várias páginas, com todas as palavras e frases e posts que requeria que eu apagasse para todo o sempre. Isto tudo acompanhado história do costume "ai que estou tão feliz com a minha nova namorada, que mora comigo aqui na Líbia, que é perfeita, e tem o 46 de soutien e é atlética e linda e que até já a apresentei aos meus pais de tanto que a amo, mas deixa-me lá passar 3 horas por dia no blog da minha ex, porque não tenho mais nada que fazer". Obviamente não é bonito receber e-mails do género. Na manhã da minha partida, dei o meu grande grito do Ipiranga quando, ao receber um segundo e-mail dele, certamente tão simpático como os outros, apaguei-o antes de o ler. Ponto para mim. Acabou-se, não quero mais que ele tenha esta influência nefasta sobre o meu humor e amor-próprio. Tenho de meter na cabeça que ele já não é a pessoa com quem vivi durante dois anos em Milão. No entanto, o amargo da boca ainda cá está. E receio que seja uma amargura numa área mais vasta do que na boca apenas.

Tarde

Peguei na mala que, segundo a minha balança digital e usando o método caseiro "pesar-me sozinha e depois pesar-me com a mala e ver a diferença de peso", vi que teria uns 5 kgs em excesso. Pensei "ok, não morro pelos 8 euros que custa cada kilo em excesso". Mal sabia eu que as companhias aéreas aumentam os preços a cada semana, e que agora cada kilo era 12 euros.
Peguei na mala nova cheiinha de coisas, mais a trolley pequena perfeita para bagagem de mão, mais a mala do portátil, mais a minha mala (ou seja "purse" - por que raio usamos a mesma palavra - mala - para dizer "purse" e "suitcase"??) e lá fui eu para o aeroporto.
Dirigi-me para o check-in e começou a aventura.
A minha mala grande tinha 25 kgs e a rapariga do check-in informou-me a melhor notícia dos últimos tempos:
- A Easyjet permite UMA SÓ bagagem de mão. Você tem 3 (a mala de mão, a trolley e a mala do portátil). Não lhe vão deixar passar nas portas de segurança.

Apesar das minhas tentativas para lhe explicar que não podia enfiar o portátil em mais nenhum lado, ela foi irredutível. Disse-me para colocar o portátil e a a mala-purse dentro do trolley pequeno, que este passava visto ter dimensões perfeitas.
Saí da fila.

Fiz uma grande ginástica e lá libertei algum espaço no trolley pequeno e meti coisas na mala grande. Sempre era melhor pagar peso em excesso do que ter de mandar 2 bagagens para o porão.

Voltei para a fila do check-in, desta vez, escolhi uma outra rapariga menos chata. Resultado: a minha mala grande estava inchadíssima, deitei fora a mala do portátil - não tinha mesmo sítio onde a enfiar - e coloquei o portátil dentro do meu trolley que levaria como bagagem de mão. Mas a mala-purse tinha-a à mesma na mão, pois não havia espaço em lado nenhum para as coisas que tinha lá dentro.

No check-in a rapariga viu que a mala grande tinha 26 kgs, mas escreveu só 5 kgs em excesso no recibo. Foi simpática. Fui pagar os 60 euros (12 euros x 5 kgs) e voltei ao check-in. Eu agradeci-lhe e lá fui eu com a minha trolley pequenina com muita lingerie e portátil e disco externo à mistura e a minha mala purse.

Cheguei ao controlo de segurança e estava lá a maior CABRA do universo:
- Não pode passar com estes dois volumes. Tem de colocar a mala dentro do trolley.
- Senhora, mas já tive de deitar fora a mala do portátil e colocá-lo cá dentro. É impossível, não cabe também a mala.
- Então não pode passar. Tem de mandar o trolley pelo porão.

Ainda tentei fazer outra dose de ginástica e enfiar a mala dentro do trolley mas era mesmo impossível. Voltei ao check-in, à mesma rapariga que me tinha feito o desconto de um kilinho.
Disse-lhe quase a chorar que queria matar todas as pessoas da Easyjet e depois suicidar-me a mim, mas acho que piadas relativas a homicídios no aeroporto não são muito bem-vindas, por isso corrigi logo com um "excepto a si, que é muito simpática".
E então, para pesar meu, dei-lhe a trolley para mandar para o porão. Vamos à parte da matemática, que isto vai ser engraçado. Ora, só pelo facto de termos uma bagagem adicional para mandar pagam-se 22 euros. Depois por cada quilo adicional, pagam-se os 12 euros. Ora, pesámos a trolley que tinha 12 kgs.
Eu teria de pagar: 22 euros (bagagem extra) + 12 euros x 12 kgs = 166 euros.
No recibo - porque no check-in nunca recebem dinheiro, temos de ir com o recibo ao balcão da Easyjet no centro do aeroporto para pagar - ela colocou somente 1 volume extra = 22 euros.
Eu olhei para ela e perguntei:
- Então e os kgs em excesso?
- Schhhhh... - e saudou-me com um sorriso cúmplice.
Fiquei emocionadíssima com o gesto e lá fui pagar os 22 euros em vez dos 166.
Depois voltei ao check-in para retirar o bilhete e agradeci à rapariga muito carinhosamente. Há pessoas assim. Fiquei a pensar quantas vezes já fui beneficiada por ser uma pessoa simpática - existe mesmo esta tendência para que os outros nos façam favores e nos ofereçam coisas, é extraordinário.

Passei pela CABRA dos controlos de segurança, agora só com a minha mala-purse - e tive de enfiar o meu portátil lá dentro porque não o quis mandar para o porão, mas a mala sendo pequena, metade do portátil estava de fora. Felizmente não implicou com isso e deixou-me a passar.

Só repetia para mim "Quando chegar a casa, vou jurar que é mentira".


Fim de Tarde

Cheguei a Lisboa no final da tarde e fiquei assustada com os 5000 posters sobre a Gripe A que decoravam o aeroporto de Lisboa. Em Itália, ninguém fala da Gripe A, é perfeitamente como se não existisse.
Esperei as malas, fui à Vodafone comprar um cartão para pôr no Blackberry e apanhei táxi para o Oriente, esperei duas horas - que usei de forma muito produtiva passeando-me pelo Vasco da Gama - pelo autocarro da Renex que me levaria para Portimão.
No autocarro, fiquei com o número de um dos lugares da frente, em que podia ter vista panorâmica sobre a estrada. A noite estava a cair e a lua cheia estava maravilhosa e linda.
Estava finalmente em casa.

8 comentários:

  1. Oh Rafaela, ainda bem que voltaste. Já toda a gente se inquiria sobre o que te teria acontecido. Boa sorte para a tua aventura portuguesa!

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  2. Oh Sãozinha, obrigada pelas tuas boas-vindas! :)
    Havemos de combinar um cafezinho agora pela rentrée, ok? :)

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  3. marca, marca...
    há quase um ano que tento combinar um café com a moça...

    rafa, não vai ser fácil!
    :D

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  4. Bem, que dia cheio de emoções fortes!

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  5. Olá!!! Já voltei de férias, já não vinha há net há quase um mês :D

    Já estás em Portimão, como te estás a adaptar? Manda-me um mail com novidades, vá!

    Beijinhos!

    Hugo

    P.s. "Em Itália, ninguém fala da Gripe A, é perfeitamente como se não existisse."
    Cá em Pt abusam provavelmente, mas é preocupante que em Itália não se fale de nada, não é?

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  6. Fiquei stressada só de ler! É por isso que nas viagens importantes tipo estas já decidi que só vou na TAP, ou na KLM no máximo, sempre é mais fácil. É que no meu caso tinha a cadela, já viste o que era? Ficava o cão ou o portátil? Mas é que ni hablar!
    Que tenhas um bom re-começo ;)

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  7. RafAELA so hoje vi a passagem que teve com a easyjet por causa da bagaguem,mas felismente encontrou uma pessoa boa no meio disso tudo,porque o que nao nos falta sao pessoas mÁS.Tudo de bom para si,e as maiores felicidades .UMA AMIGA...

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