Contei baixinho 1, 2, 3 e respirei fundo.
Não era fácil, já passavam das 23h e tinha acabado de chegar de um jantar mexicano com a minha, agora, ex-roommate Holly. Ela mudara-se no fim-de-semana antes para um monolocale maravilhoso, com mobílias do Ikea por estrear, pertinho do Corso Buenos Aires. Para quem não era capaz de ir ao supermercado sozinha alguns meses antes, hoje mudar-se para um mini-apartamento e ir morar sozinha...parece-me um bom salto, não é? Depois de uma noite emocionante - que já se esperava - afinal morámos juntas 1 ano, ela esteve lá...em cada momento difícil meu e foi autora também das maiores gargalhadas que dei neste ano tão conturbado, é sempre difícil o conceito de "Adeus, vou mudar de país".
Ofereceu-me um postal...já vos disse que os ingleses adoram postais? É uma coisa parva, para qualquer eventozinho existe um postal. Na Inglaterra vendem-se postais como se fossem pastilhas elásticas, há-os por todo o lado e a preços ridiculamente baixos tipo 40 postais a 2 libras e coisas do género. Cá em Portugal acho que se perdeu a magia dos postais...nem no Natal os enviamos...
Voltando ao postal...as lágrimas foram inevitáveis. Impossível não fazer um balanço, pelo menos, daquele último ano, o ano em que partilhámos uma casa e uma vida.
As despedidas dos amigos do trabalho e do coração já tinham sido feitas, ao longo dos últimos dias, misturadas com muitas horas de trabalho com as traduções que ainda estava a fazer. A Holly foi a última pessoa com quem estive. Não houve um drama extraordinário em nenhuma destas ocasiões pois regresso a Milão para um casamento no início de Setembro, então esteve sempre presente esta ideia, que daqui a um mês revejo toda a gente. Ou pelo menos a gente que interessa.
Regressei a casa e tinha ainda o mais difícil por fazer. Arrumar e organizar as minhas gavetas. Já tinha enviado com a transportadora os meus 110 livros, os 60 dvds, os 30 e tal pares de sapatos (desfiz-me de alguns para bem da minha sanidade mental ao tentar enfiá-los todos numa mala enorme) e os meus 10 casacos compridos de Inverno. As coisas grandes tinham ido.
Faltavam as coisas pequenas...e por favor, não as ignoremos, porque dão mais trabalho do que as grandes. Sem dúvida nenhuma.
Abrir as gavetas foi por si só uma viagem ao mundo das recordações. Além das facturas, recibos verdes, recibos de vencimento, documentos de rendimentos, canetas que ia comprando, selos velhos sem validade, isqueiros que comprei na viagem a Paris há 2 anos - e desde aí prometera a mim mesma que nunca mais compraria souvenirs porque não servem absolutamente para nada, tinha tudo o resto: os postais dele, o dos vários aniversários e os de Natal. Abri-os e reli-os. Quis deitar fora. Tive receio de me arrepender, porque aquilo é a minha história. Guardei um e o outro escorregou-se-me da mão e no monte que se ia fazendo no chão ficou. Encontrei também os vários saquinhos com as várias dezenas de dólares que me tinham sobrado da viagem a Nova Iorque; outro com as libras das viagens a Londres; encontrei pastas com dezenas de postais e bilhetes de avião de todos os sítios que visitei nestes dois anos: Praga, Barcelona, Valencia, Madrid, Nova Iorque, Londres, Paris, Nice, Freiburg, Berlim, Ibiza, Sevilha, Veneza, Siena, etc. Isso e talões de compras, facturas de farmácia, tudo numa deliciosa e dolorosa confusão de lembranças, mas que ao mesmo tempo me afagava a alma e me dizia: Tu viveste bem.
Depois de ter escolhido o que queria deitar fora e o que queria guardar, organizei tudo em pastas e fui metendo na minha mala. Por volta das 3 acabei as arrumações e esvaziei todas as gavetas. Queria muito ter esvaziado a alma, mas essa estava mais cheia do que nunca.
Não era fácil, já passavam das 23h e tinha acabado de chegar de um jantar mexicano com a minha, agora, ex-roommate Holly. Ela mudara-se no fim-de-semana antes para um monolocale maravilhoso, com mobílias do Ikea por estrear, pertinho do Corso Buenos Aires. Para quem não era capaz de ir ao supermercado sozinha alguns meses antes, hoje mudar-se para um mini-apartamento e ir morar sozinha...parece-me um bom salto, não é? Depois de uma noite emocionante - que já se esperava - afinal morámos juntas 1 ano, ela esteve lá...em cada momento difícil meu e foi autora também das maiores gargalhadas que dei neste ano tão conturbado, é sempre difícil o conceito de "Adeus, vou mudar de país".
Ofereceu-me um postal...já vos disse que os ingleses adoram postais? É uma coisa parva, para qualquer eventozinho existe um postal. Na Inglaterra vendem-se postais como se fossem pastilhas elásticas, há-os por todo o lado e a preços ridiculamente baixos tipo 40 postais a 2 libras e coisas do género. Cá em Portugal acho que se perdeu a magia dos postais...nem no Natal os enviamos...
Voltando ao postal...as lágrimas foram inevitáveis. Impossível não fazer um balanço, pelo menos, daquele último ano, o ano em que partilhámos uma casa e uma vida.
As despedidas dos amigos do trabalho e do coração já tinham sido feitas, ao longo dos últimos dias, misturadas com muitas horas de trabalho com as traduções que ainda estava a fazer. A Holly foi a última pessoa com quem estive. Não houve um drama extraordinário em nenhuma destas ocasiões pois regresso a Milão para um casamento no início de Setembro, então esteve sempre presente esta ideia, que daqui a um mês revejo toda a gente. Ou pelo menos a gente que interessa.
Regressei a casa e tinha ainda o mais difícil por fazer. Arrumar e organizar as minhas gavetas. Já tinha enviado com a transportadora os meus 110 livros, os 60 dvds, os 30 e tal pares de sapatos (desfiz-me de alguns para bem da minha sanidade mental ao tentar enfiá-los todos numa mala enorme) e os meus 10 casacos compridos de Inverno. As coisas grandes tinham ido.
Faltavam as coisas pequenas...e por favor, não as ignoremos, porque dão mais trabalho do que as grandes. Sem dúvida nenhuma.
Abrir as gavetas foi por si só uma viagem ao mundo das recordações. Além das facturas, recibos verdes, recibos de vencimento, documentos de rendimentos, canetas que ia comprando, selos velhos sem validade, isqueiros que comprei na viagem a Paris há 2 anos - e desde aí prometera a mim mesma que nunca mais compraria souvenirs porque não servem absolutamente para nada, tinha tudo o resto: os postais dele, o dos vários aniversários e os de Natal. Abri-os e reli-os. Quis deitar fora. Tive receio de me arrepender, porque aquilo é a minha história. Guardei um e o outro escorregou-se-me da mão e no monte que se ia fazendo no chão ficou. Encontrei também os vários saquinhos com as várias dezenas de dólares que me tinham sobrado da viagem a Nova Iorque; outro com as libras das viagens a Londres; encontrei pastas com dezenas de postais e bilhetes de avião de todos os sítios que visitei nestes dois anos: Praga, Barcelona, Valencia, Madrid, Nova Iorque, Londres, Paris, Nice, Freiburg, Berlim, Ibiza, Sevilha, Veneza, Siena, etc. Isso e talões de compras, facturas de farmácia, tudo numa deliciosa e dolorosa confusão de lembranças, mas que ao mesmo tempo me afagava a alma e me dizia: Tu viveste bem.
Depois de ter escolhido o que queria deitar fora e o que queria guardar, organizei tudo em pastas e fui metendo na minha mala. Por volta das 3 acabei as arrumações e esvaziei todas as gavetas. Queria muito ter esvaziado a alma, mas essa estava mais cheia do que nunca.
queria dizer-te tantas coisas, mas as palavras param na garganta e começo a deglutir, como quando se está prestes a chorar...
ResponderEliminarcompreendo-te
e a sensação de deixar tudo para trás impede-me de dizer mais coisas
beijos grandes
Já tinha saudades de te ler... :)
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