menu-topo

Alguma coisa acontece no meu coração

15.2.10
Há uns dias comprei a Visão Viagens, porque tinha o sugestivo título de "Bella, Bella Italia".
Como ainda estou na fase em que quase todas as associações ao Belpaese ainda me fazem tremer por dentro, saquei dos 4 euros e comprei-a no mesmo instante. Mal podia adivinhar o turbilhão de sentimentos que vinha por ali.

Começo a ler as palavras de Gonçalo Cadilhe...

Já muitas vezes, ao longo de quase 20 anos como viajante profissional, fui tentado a usar uma frase que escutei numa canção do Caetano. Nunca me permiti. É uma frase bonita, delicada, que não pode ser levianamente colocada em plano de igualdade com os clichés das brochuras turísticas, nem atirada para a arena dos lugares óbvios e previsíveis, nem desperdiçada no entusiasmo dos deslumbramentos passageiros. Por exemplo, era tão fácil usar essa frase, a frase, na vertigem luxuriosa do Grand Canyon, ou nesse fantasma da História que é a catedral esquecida de Akdamar, no lago de Van, na Anatólia, ou usá-la naquele cemitério perdido no fim da Polinésia que guarda logo ali, ao lado um do outro, os túmulos de Gauguin e Brel, enquanto a brisa agita as palmeiras e o Pacífico continua a ceifar pacientemente as falésias negras de Hiva Oa.

Eu sabia a que canção se referia: eu cresci a ouvir o meu pai a tocá-la na viola e a cantá-la para mim. Mas não tinha bem certeza de como Cadilhe iria associá-la a Itália.

Prossegui a leitura, já com o coração aos pulos e um nó que se começava a formar na garganta:

Continuei obstinadamente ao longo dos anos a recusar recorrer à frase da canção do Caetano. À espera da altura certa. O tempo também passa pela sensibilidade do viajante: lugares que aos 20 anos nos parecem "o melhor do mundo", aos 40 podem parecer-nos de uma banalidade confrangedora. E o contrário, claro, também se aplica. E assim, fui adiando. Quando teria finalmente a certeza de poder usar a frase sem me sentir ridículo, despropositado, conivente?

Regresso uma vez mais à Ligúria, onde tantas vezes fui feliz e tantas vezes tive quase toda a beleza do mundo ao alcance da mão, e a frase regressa uma vez mais aos meus lábios, como quem murmura uma canção - a canção de Caetano: "Alguma coisa acontece no meu coração." É aqui.

Os poros da pele pronunciaram-se, o coração saltou e as lágrimas imitaram-lhe o gesto. A melodia do Caetano ecoou na minha cabeça e as memórias de uma das paisagens mais bonitas do mundo caíram em catadupa diante dos meus olhos.

Sim, tive o privilégio de morar 3 anos num dos países mais bonitos do mundo e muitas vezes vinha passar fins-de-semana à querida Liguria do Gonçalo. Hoje fui ao baú de recordações e deixo-vos as melhores fotos de momentos extraordinários.











2 comentários:

  1. Ahhhhhhhh cinque terre, um dos meus lugares preferidos de sempre. É impossível não ficar apaixonado pela sua beleza. :)

    ResponderEliminar
  2. Já não vou lá há muitos anos...mas adorei, foi o melhor que vi de Itália (e detestei Itália, nessa viagem). Comi lá pesto pela primeira vez, comi a melhor panacotta da minha vida. O meu coração fica assim em Paris, diante da Torre Eiffel, sempre (e eu nem gosto por aí além de Paris...).

    ResponderEliminar

AddThis