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Só para quem viveu em Itália

29.6.10


Quando o Agualusa se viu praticamente proibido de entrar em Angola por ter declarado publicamente que Agostinho Neto era um poeta medíocre, senti solidariedade para com ele.
Para os leigos na matéria, Agostinho Neto é provavelmente a maior figura angolana de todos os tempos: escritor e político, desempenhou um papel fundamental na independência de Angola e foi também Presidente de Angola antes do Senhor José Eduardo dos Santos (sim, aquele milionário que detém 50% de todas as grandes empresas portuguesas). E como se não bastassem todos estes atributos, Agostinho Neto é uma figura intocável, apesar de ter morrido há mais de 30 anos.
E um dia veio o senhor Agualusa dizer que aqueles que acham que Agostino Neto era um poeta fabuloso eram uns belos tansos e ignorantes, pois na verdade ele era um poeta medíocre. Vítima de processo e de humilhação pública, viu-se obrigado a mudar de país, abandonando a pátria mãe, a pátria que lhe inspira ainda as palavras e os belos textos.

A intimidade tem destas coisas.
Quando sentimos que alguma coisa nos pertence, sentimo-nos no direito de poder falar bem ou mal, sem nos perdermos em grandes justificações ou desculpas. Tenho a certeza de que se fosse o Miguel Sousa Tavares a falar mal da obra de Agostinho Neto, que o Agualusa teria partido em defesa do seu conterrâneo. Mas como se trata de uma pessoa da sua terra, ele falou o que pensava. Um pouco como os pais que criticam os filhos, mas ai do vizinho que ouse proferir alguma ofensa à sua prole.
Eu sinto o mesmo com os italianos. Falo mal deles quando tem de ser: que os homens são machistas e acham que todas as mulheres deviam ser como nos anos 50, que as mulheres têm um aparelho fonador deformado, concedendo-lhes timbres de voz horríveis e irritantemente agudos, que o Berlusconi é a vergonha da nação, que o Saviano perdeu direito a viver pelo livro controverso que escreveu,  que um italiano me causou o desgosto da vida, que não existe democracia e muito menos liberdade de imprensa... 

Mas quando vejo vídeos como estes, em que se menciona a verdadeira essência de ser-se italiano, esqueço-me de tudo e sinto um fogo de felicidade dentro de mim, como se tivesse acabado de beber um limoncello. Nem me vou deter na voz da senhora, que é provavelmente a melhor do mundo. Mas as palavras que ela diz sobre Itália no início...balança qualquer coração.




Nota:
Esta canção chama-se Caruso. É, obviamente, napolitana.
Foi cantada por todos os grandes: Pavarotti, Bocelli, Lucio Dalla. Escolhi a versão desta senhora, Lara Fabian, precisamente pelo minuto em que ela discorre sobre a universalidade desta música e pela italianidade da melodia.
Dedico a todos os que viveram em Itália, pois apenas estes irão colocar no repeat e apenas estes sentirão um nó no estômago.

2 comentários:

  1. Obrigada...
    Mil vezes obrigada!

    Frida

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  2. Realmente tens razão, deixa mesmo um nó no estomago, apesar que eu prefiro de longe a versão original, essa sim deixa-me sem ar...
    Obrigada por me lembrares que não é assim tão mau estar onde estou !
    Beijo

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