Preparação para os Óscares - parte 2
27.2.11
Há dois dias fui ver o 127 horas ao cinema. Estreia nacional.
O James Franco tem vindo a construir uma carreira muito consistente, conseguindo experimentar diversos registos e estilos como o Homem Aranha, Milk ou Eat Pray and Love. Reconheço-lhe o charme e o talento e vê-se que é um rapaz que vai longe. Em 127 horas tem o seu primeiro papel como protagonista. É um papel ingrato, pois o 98% do filme baseia-se numa actuação a solo. Este tipo de papéis, normalmente, é concedido a actores muito experientes. Lembro-me, de repente, do Tom Hanks em Cast Away.
A Luna diz, brilhantemente, que o que mais apreciou no filme e no desempenho do James Franco foi a contenção da personagem. É tão fácil resvalar para o melodramático numa situação de desespero como esta. E o 127 horas não cai nessa esparrela. Fica-se pelos factos e por uma viagem ao passado e aos sentimentos da personagem que vai reunindo as forças para finalizar no acto que todos já sabíamos que iria acontecer: a mutilação de um braço, para poder tentar sobreviver. Sim, porque nada garantia que se iria safar. Por vezes ao vermos a Anatomia de Grey vemos pessoas que perdem sangue e morrem, como é que este gajo conseguiria saber que iria sobreviver mesmo sem um braço e com a possibilidade de desmaiar de dor?
Fui ao cinema acompanhada por um amigo. Um amigo desportista e daqueles que admiro: levanta-se todos os dias às 6 da manhã para ir treinar, portanto, à sua maneira, tem um espírito de sacrifício bem presente no seu dia-a-dia. Quando acabou o filme ele conversou comigo normalmente, como se tivéssemos acabar de comer um gelado. Ao ver o meu ar introspectivo, quase macambúzio, respeitou o meu silêncio e levou-me à paragem de táxis mais próxima.
- Amanhã falamos melhor. Depois deste filme, não consigo falar. - disse-lhe eu ao despedir-me.
O que mais me tocou no filme é que há seres humanos melhores do que outros. Há pessoas mais bem preparadas do que outras. Embora o espírito de sobrevivência, em situações de desespero, nos possa assolar e fazer com que realizemos acções até ali consideradas impensáveis ou impossíveis, houve uma conjuntura que permitiu ao protagonista de cortar o próprio braço. Ora, vamos por pontos:
- eu não saberia partir o meu próprio braço de forma a romper o osso;
- eu não saberia cortar a minha pele, carne, músculos e tendões com a merda de um canivete dos chineses;
- eu não saberia fazer um garrote, de forma a bloquear a circulação sanguínea e imobilizar o braço;
- eu não saberia fazer aqueles nós super especiais-que-se-aprendem-nos-escuteiros-mas-que-apenas-memorizo-para-o-exame-no-final-do-acampamento-e-nunca-mais-me-lembro-como-se-fazem com as cordas de escalada para depois descer, só com um braço por um desfiladeiro abaixo.
Portanto, o filme não retrata apenas a coragem e a determinação. O filme retrata uma pessoa que tinha uma série de capacidades - que uma pessoa normal não possui - e a força que congregou ao longo de 127 horas para se salvar. Eu, no lugar da personagem, teria enfiado o canivete no coração e acabado com a minha vida naquele momento. Mas isto é o que distingue os grandes homens (Aron Ralston) de pessoas comuns (Rafaela).
Pelo sim, pelo não vou passar de 25 kg para 50 kg na carga da musculação. Nunca se sabe quando nos será exigida força de braços.
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Sei que terei de ver o filme, mais tarde ou mais cedo. Não vi nenhum dos outros nomeados, cá virão parar. mas este parece-me obrigatório.
ResponderEliminarNem sei bem como, lembrei-me de uma coisa que sei desde miúda (eu lia a esmo, e sempre houve esta paixão por animais): quando aprisionados numa armadilha, há registo de casos de visons que roeram a própria perna para se libertarem. O amor à vida.
Acho que vou pegar em Jack London quando for para a cama.
E só hoje me dei conta que fui aqui mencionado... e de que maneira. A forma como escreves faz-me sentir "pequenino", por isso, limito-me apenas a agradecer-te as bonitas palavras. Palavras essas que sabes usar como ninguém.
ResponderEliminarFizeste o meu dia. Obrigado.
Este "plim" foi o mais especial de todos.... gosto muito de ti, e também te admiro muito.
Ó querido C.G., não tens nada de agradecer...não fiz nada de especial. Um dia quando falar só de ti (e não numa intercalar de discurso) então vais chorar as pedras da calçada. ah ah. :)
ResponderEliminarBeijo enorme, je t'adore.
não concordo que se fale de uma pessoa especial por oposição a uma pessoa normal, simplesmente era uma pessoa com um tipo de conhecimento diferente (porque costumava fazer este tipo de excursões e estava minimamente preparado para algum problema que acontecesse). se calhar tu e eu somos capazes de fazer coisas que ele não sabe/consegue fazer.
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