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Não consigo escrever!

2.12.14

Sou dura comigo. Sou mesmo muito dura.
Não só tenho uma capacidade de auto-crítica elevada, como tenho excelentes e frequentes hábitos de fustigação mental.
Esta censura aos meus gestos, pensamentos e atitudes não me impede de fazer ocasionalmente figura de parva. Mas gosto de pensar que essas tolices fazem parte do meu encanto.

Comecei a fazer um curso gratuito no Creative Live (se não conhecem ainda este site, não sabem o que estão a perder) sobre criatividade: Fulfill your Creative Purpose. Hoje houve uma espécie de debate sobre a criatividade e um dos intervenientes dizia que existem dois bloqueios para o processo criativo:
- dar demasiada atenção ao resultado
- dar demasiada à importância à forma como somos percepcionados, perdendo de vista quem somos efectivamente

Bem, não precisava de um curso para chegar a esta conclusão. 
Durante este ano, cerca de 10 pessoas tiraram-me do Facebook. Para mim, que nunca confundi o Facebook com a vida real e que sei que os meus 1779 amigos não podem ser considerados amigos na verdadeira acepção do termo, mas sim contactos, pessoas que gostamos de ler, pessoas que pertencem à nossa vida, uns com mais ou menos importância, este gesto tem uma grande importância: significa que essas 10 pessoas têm algo contra mim tão forte que não querem nem lembrar-se de que eu existo. Estas 10 pessoas removeram-me das suas vidas virtuais por várias razões: uma porque levou a mal uma chamada de atenção minha sobre o seu comportamento no meu mural; outra porque ficou ofendida com uma questão que aconteceu na vida real; outra porque se sentiu insultada por eu ter retirado um comentário agressivo que fez a um post meu. Estas pessoas tinham algo em comum: não são meus amigos na vida real. Algumas destas até me conheciam pessoalmente (uma delas há mais de 10 anos), mas não eram pessoas que me *conheciam*. Uma destas pessoas em particular, de quem não esperava uma atitude radical em relação a mim, fez-me sofrer. Literalmente. Passei a primeira semana que estive em Nova Iorque profundamente afectada por esta rejeição (que acaba por ser o problema inerente) e cheguei até a pensar que não tinha estofo para isto de escrever publicamente, de me expor na Internet.

O medo de escrever continua. Provavelmente porque me levo demasiado a sério e quero criar bons conteúdos, quero que vocês - leitores - se identifiquem, se divirtam ou, pelo menos, se distraiam comigo. Estive em conversações durante alguns meses com uma das revistas mais famosas de Portugal. Eles achavam piada ao meu Facebook e surgiu a ideia de escrever uma crónica semanal para eles. Acabei por escrever uma primeira crónica quando ainda estava no Rio de Janeiro, mas que foi rejeitada porque estava demasiado penteadinha, demasiado lambidinha, portanto, muito pouco "Rafa". Eles queriam a minha escrita colorida, atabalhoada, espontânea, despretensiosa, com asneiras até se fosse preciso. E eu fiquei de enviar uma segunda crónica, transformada e mais livre... e nunca o fiz. Andei sempre em busca de uma inspiração que não chegava, em busca de uma hora livre e despreocupada para escrever que nunca mais tive. Tinha medo, claro. Medo de alcançar uma visibilidade para a qual não estava preparada, medo de não ter disponibilidade mental para escrever semanalmente coisas giras, engraçadas e relevantes, medo de não saber lidar com as críticas (sim, porque os haters andam aí) que iriam começar a chegar. Então deixei o assunto ali quietinho.
O problema é que a sensação de assunto pendente permaneceu. Estão a ver quando têm o computador com todos os programas aparentemente desligados, mas depois fazem CTRL+ALT+DEL, vão ao Gestor de Tarefas e vêem dezenas de programas e aplicações a correr no background? Essa sou eu, essa é a minha cabeça. Então, às vezes é preciso fechar a aplicação, de uma vez por todas. Escrevi uma mensagem à editora da revista, agradecendo-lhe pela oportunidade mas que, de momento, não poderia assumir um compromisso desta envergadura. Disse-lhe que precisava de recuar um bocadinho e voltar a escrever sem me importar com os likes, com o feedback, com as opiniões alheias. E para isso tinha de assumir uma atitude mais discreta. Ela compreendeu e cada uma foi à sua vida.

Portanto, aqui estou eu para vos dizer que: 1) não tenho sentido muita vontade de escrever; 2) sou uma pessoa com sentimentos e não lido muito bem com críticas destrutivas; 3) gosto de vocês e 4) isto da escrita deve ser um exercício diário e vou fazer o meu melhor para dizer alguma coisa de jeito, mas caso isso não aconteça, mandem-me beijinhos na mesma.

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Isso de ser honesta é hoje em dia uma das coisas mais raras da internet. Pouco importam os defeitos e angustias, continua sempre genuina e leal a ti mesma. The rest shall follow. Beijo.

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  3. Pode ser que não consigas escrever porque não arranjaste o jeito para escrever sobre o q te está a "bloquear"... :) e o que te está a bloquear ocupa vários dos recursos que o cérebro usa para escrever, nomeadamente: liberdade criativa

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  4. Muitos beijinhos Rafa! Eu adoro ler-te ;)

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  5. Cada vez gosto mais de ti! É esse lado "esgrouviado" que mais gosto. Tomara eu conseguir ser assim tão solta...
    Continua a escrever o que quiseres quando quiseres, que eu cá estou para ler, seja em que formato for.
    Muitos beijinhos.

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  6. Miúda, não há nada de mal em dizer que não uma vez ou outra. Não ganhamos nada a tentar abraçar todos os projectos. Eu compreendo esse medo, mas acho que não o devias ter, mas também sei que só deves avançar quando estiveres disposta a enfrentar as consequências boas e más do processo. Pareces-me sempre muito sã no que dizes, mas espero que não deixes de escrever porque adoro ler-te, mesmo comentando pouco.

    (ah!, e parece que estamos sempre a assistir aos mesmos cursos do creative live pá! )

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    1. Querida Analog, é verdade, temos andado a par e passo :) Mas este mês vai haver uma viragem por aqui. Beijo enorme

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  7. Cheguei há pouco ao teu blog e estou aqui fazer uma maratona de leitura de posts teus... Cheguei, gostei e fiquei. Adoro a forma como escreves, fizeste-me rir e pensar "ahhh realmente isto é verdade" em algumas situações. Não deixes de escrever, nem te importes tanto com o que os outros pensam... Se gostas, essa deve ser a tua maior força para continuar ;)

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    1. Olá, SB.
      Que mensagem tão simpática. Muito obrigada pelo comentário, a sério. Já escrevi este post há uns meses e ainda sinto um bocadinho o que aqui está (estive agora a ler novamente), mas estou a melhorar. Tanto que - imagina tu - estou a fazer um curso de conteúdos digitais e o meu projecto de curso é precisamente criar um plano editorial para o blogue. E já comecei. Wish me luck e muito obrigada pela força! <3

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