Sempre fui dada a amizades avassaladoras.
Se gosto imediatamente de uma pessoa, não descanso enquanto ela não for a minha melhor amiga.
Gosto de viver aquelas amizades que, a partir do momento em que se conhece o outro, sabe-se logo que há ali uma química extraordinária e que não podemos atravessar uma vida sem nos partilharmos um ao outro. A duração e profundidade deste tipo de relações não é relevante. O que importa é mesmo a intensidade. E sempre me diverti e cresci muito com isso. Sabem aquela sensação de paixão à primeira vista, em que a primeira vez que colocamos os olhos numa pessoa o queremos despir imediatamente? Isso acontece-me, mas no campo da amizade. E sem implicar a parte do despir, claro.
O facto de ter crescido sem irmãos e sem vizinhos próximos fez-me desenvolver uma necessidade de amigos maior do que o normal. Afasto-me terminantemente do conceito pejorativo de filha única, porque o meu pai "nunca papou grupos comigo", nunca me extra-mimou. E como não tenho irmãos, tenho amigos. Daqueles que são como irmãos.
Desde que o conceito de amizade verdadeira se desenvolve numa pessoa (por volta dos 10 anos) tive muitos amigos que chegaram e partiram, mas tenho alguns que obviamente se mantêm. Umas há já 15 anos, outras há 12, outras há 10 e outras mais recentes mas, ainda assim, fortes e estáveis.
Hoje lembrei-me da Sara. Conheci-a no fabuloso Verão de 1998. Eu costumava sair com o primo dela que era um vizinho e ela tinha vindo da Alemanha de férias. Reparei nela porque para além da visível simpatia, cantava muito bem. Sim, acho que uma das primeiras saídas foi para o Karaoke do extinto Bar Cruzeiro na Praia da Rocha. Começámos a conversar, como se se tratasse de um love interest e percebemos que tínhamos os mesmos gostos de música, de cinema, e perspectivávamos a vida de forma semelhante. Ela adorava R&B, apesar de ser branca como a cal, e em Portimão não conhecia absolutamente ninguém que gostasse ou conhecesse esse tipo de música. E lá íamos nós a pé para a praia a cantar "The Boy is Mine" da Brandy e Monica e a "All Cried Out" das Allure.
No final de Agosto, ela voltou para a Alemanha, qual paixão de Verão terminada pelo destino, mas continuámos a escrever cartas uma à outra. Isto foi antes de haver acesso generalizado à MTV e à Internet, por isso ela mandava-me cassetes com as músicas que iam saindo e lá em Colónia saía tudo antes do que cá.
Aos poucos foi esmorecendo, mas o carinho grande ficou.
Há uns meses encontrei-a na rua em Portimão e não nos víamos há quase 10 anos. Falámos como se nos tivéssemos visto no dia anterior. No meio da Rua do Comércio, ela contava-me que estava a viver em Portimão com o namorado e que as coisas não estavam muito bem. Eu contei-lhe que tinha acabado de regressar de Itália depois de 3 anos a viver lá. Demos um abraço forte, trocámos números e prometemos telefonar para combinar uma saída. Nunca aconteceu, mas penso nela sempre com carinho.
Hoje ao ouvir K-ci and Jojo lembrei-me dela e dos tempos em que as nossas maiores preocupações era se o bridge da música era num tom demasiado elevado.
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